domingo, 3 de agosto de 2008

Morgana fala ...



Transcorreram anos antes que eu pudesse sentir esses movimentos novamente no sangue, ou conhecer, com a máxima exatidão, onde, no horizonte, a lua ou o sol nasceriam ou desapareceriam, para as saudações que aprendi outra vez a fazer. E tarde da noite, quando todos dormiam à minha volta, eu estudava as estrelas, deixando que sua influência me penetrasse o sangue, à medida que percorriam os céus, até me transformar apenas num ponto insignificante na Terra imóvel, centro da dança espiralar dentro de mim, acima de mim, do movimento das estações. Levantava-me cedo e deitava-me tarde para ter tempo de vagar pelos montes, sob o pretexto de colher ervas e raízes para remédios, e nos montes busquei as velhas linhas de força, traçando-as desde as pedras até os lagos.

Certas vez, em montes distantes, encontrei um círculo de pedras, não tão grande quanto o que havia no Tor, em Avalon, nem o outro, ainda maior, onde antes havia sido o Templo do Sol, nas grandes planícieis calcárias. Limpei as heras e urtigas, e como eu sempre encontrava um jeito de tirar comida da cozinha, deixei ali, para o povo da Deusa, as coisas que eu sabia que raramente tinham - um pedaço de pão de cevada, um pouco de queijo ou de manteiga. E certa vez, quando ali cheguei, encontrei, no centro do círculo de pedras, uma coroa de flores perfumadas que cresciam nas orlas do país das fadas, e que ficam secas sem murchar. Quando em noite de lua cheia saí novamente com Acolon, usei a coroa ao nos unirmos naquela união solene que fazia desaparecer o indivíduo e nos tornava apenas deusa e deus, afirmando a vida interminável do cosmos, o fluxo da energia entre homem e mulher, como entre e Terra e o Céu.

Nenhum comentário: